O Brasil ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2027, após uma votação aberta do Congresso da FIFA na Tailândia, na sexta-feira. Embora a vitória já fosse esperada nas semanas que antecederam a votação formal, a decisão ainda é histórica — é a primeira Copa do Mundo Feminina não apenas realizada no Brasil, mas em toda a América do Sul.
Agora, o Brasil tem cerca de três anos para realizar tudo o que planejou em sua candidatura. Então, o que podemos esperar? Vamos nos voltar para o documento de candidatura que eles enviaram à FIFA em dezembro, detalhando sua visão, plano logístico e expectativas financeiras. Notavelmente, todos esses pontos são muito do ponto de vista da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), embora a análise técnica da FIFA sobre a candidatura tenha concordado em grande parte — mas um ponto fraco da candidatura concorrente pode ter desempenhado um grande papel na vitória do Brasil também.
Os documentos de candidatura geralmente não refletem a realidade que veremos em três anos, mas ainda há muito valor em examinar o plano como está agora — além da maneira como a CBF apresenta sua visão atual do futebol feminino no país e como imaginam o futuro.
A visão A candidatura do Brasil é intitulada “Tão Natural quanto o Futebol”, uma referência a duas ideias-chave da federação: normalizar o futebol feminino no país e quebrar os preconceitos e barreiras sociais existentes em torno do jogo feminino, além de uma abordagem mais literal de sustentabilidade ambiental. A CBF quer usar a Copa do Mundo de 2027 como uma plataforma para questões ambientais como a proteção do clima e da biodiversidade.
O documento de candidatura estabelece múltiplos objetivos para sediar a Copa do Mundo, mas os principais são aumentar a participação no futebol feminino em todos os níveis, aumentar o engajamento em torno do esporte e, talvez mais criticamente aos olhos do Brasil, torná-lo financeiramente sustentável.
Um elemento notável do seu plano para o crescimento do esporte é a exigência de que “todos os clubes (masculinos) que desejam participar de competições nacionais e continentais de alto nível agora devem fornecer uma estrutura para uma equipe feminina”. O documento de candidatura não entra nos detalhes sobre o que qualifica como “estrutura” e se isso significa que uma equipe feminina deve ser formada ou qual nível de investimento deve ser garantido. Eles estabeleceram metas com a CONMEBOL para aumentar o número de equipes femininas no país.
O Brasil conta com o apoio de sua confederação para sua candidatura, o que é necessário para a logística, mas também porque esta é a primeira vez que a Copa do Mundo Feminina será realizada na América do Sul.
O documento de candidatura aborda abertamente o fato de que o Brasil proibiu o futebol feminino por décadas (mais sobre isso na próxima seção) e centra a ideia de normalizar o esporte, mas ainda há algumas escolhas na linguagem do documento que — do ponto de vista de um observador externo — mostram que este será um grande projeto de fato.
Por exemplo, a federação usa sua história no futebol masculino, com a instituição da seleção nacional em 1914, para justificar sua candidatura logo no início. “Parece-nos natural que o Brasil, mundialmente conhecido por suas notáveis conquistas no futebol masculino, apresente sua proposta para sediar o maior espetáculo do esporte e do futebol feminino: a Copa do Mundo Feminina da FIFA 2027.”
Mas é na descrição da marca da sua candidatura que as coisas ficam um pouco estranhas. “A principal inspiração para nossa marca de candidatura é a água, que simboliza a essência das mulheres”, diz a seção. “Tanto as mulheres quanto a água têm fluidez, mas possuem um poder incontrolável e a capacidade de gerar vida. Para o logotipo, o artista se inspirou em formas curvas, movimentos fluidos e cores que simbolizam a água e a feminilidade.”